quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O QUE É UM CALHAU?


O que é um calhau?
(Por: Mário Tito)
 




Numa manhã recente, não muito distante ao levantar-me, fui directo ao dicionário que mandei vir expressamente de Portugal, quando tive necessidade de corrigir o texto de um livro que escrevi - já publicado - porque, na verdade, como me encontro nos EUA e há muitos anos fora de Portgal, se bem que ainda conserve intacto o domínio do nosso idioma, o certo é que, há palavras que me são mais difíceis de "garantir" que estejam correctas.

Além disso, havia o facto que o meu teclado era local e, como tal, não tinha as mesmas características que um teclado europeu, com "ç~", ~,´,`,^, etc.ª. A razão para a consulta naquele dia, foi para me certicar a mim mesmo, por uma questão de querer confirmar o que tinha sonhado durante a noite.
 
Após consulta, fiquei perplexo pela fraca abundância descritiva do significado da palavara "CALHAU", origem do título deste blogue". Notei que, apesar de "tocar o tema”, fá-lo com pouca dimensão...atendendo á abundância de qualificantes que, na minha opinião, a mesma palavra poderá receber, considerando o enorme “universo” de possibilidades qualificativas, numa imensa lista de "TUDO" o que poderá ser considerado um “CALHAU”.
Como disse, fui imediatamente ver o dicionário que, como já disse, mandei vir directamente de Portugal - já que me encontro nos “States do Uncle Sam – roubados aos Índios - pesquisei o mesmo e deparei com a palavra em questão, na página nº 283 do dicionário da Língua Portuguesa de 2010, 2ªcoluna, referência 8, palavra – calhau.

Reparem na “magreza” de explicativos sobre a mesma: - 1) fragmento de rocha dura; pedra pequena; seixo, - 2) indivíduo estúpido. (Não me digam?  Por acaso, esta até sabia por, infelizmente, conhecer muitos mas, com uma lista descritiva muito mais extensiva.)rolado, pedra que, pelo desgaste em transporte pelas águas correntes, se apresenta mais ou menos polida (coisa que falta aos calhaus-estúpidos porque, mesmo de aparência polida, continuam a “ser o que são” devido a que…as aparências iludem), de bordos arredondados. (do "prov"., calhau do "gaul" caliavo ou caljo "pedra". Agora, o que significa "prov" e "gaul"… perguntem-me amanhã porque, hoje, não sei responder.
Mas voltando ao tema:
Será que, na gíria popular da realidade da vida, não haverá mais nada nem ninguém que possa reunir os qualificativos de merecer (?) ser considerado um calhau? Creio que sim!

Portanto, se um “calhau” é uma pedra…não seria lógico que uma “pedra” fosse um calhau? Reparem na abundância de descritivos sobre a “pedra”, em relação a “calhau”, encontrados depois de – novamente – voltar a consultar o dicionário.
 
Esta sim…é mais “rica” em descritivos tal como segue: - Página 1206 do mesmo dicionário, segunda coluna – ponto 10. "Pedra": 1) substância dura e compacta que forma as rochas; 2) calhau; 3) peça de diversos jogos; 4) lápide de sepultura; lapa; 5) designação vulgar de pedra preciosa; 6) granito: 7)  medicina (esta de medicina, não entendo o porquê…) concreção dura que se forma na bexiga, rins, fígado, etc., também cálculo; (cálculo?...pensava que cálculo era  e é o significado de calcular algo). 8) concreção calcária que se forma nos dentes (por isso é bom lavarem-se amiúdo); 9) lousa escolar; (ai que saudades eu tenho da minha lousa, e de algumas garôtas daquele tempo de menino) 10) quadro preto; 11) pessoa considerada pouco inteligente (aaaaaah, eu bem sabia que era isso…mas queria confirmar); 12) estado de entorpecimento ou de euforia induzido por droga ou álcool; 13) féria da semana para os sapateiros (essa agora…descriminarem os sapateiros? Porquê?); alectória pedra que se julgava formar-se no estômago ou fígado do galo, à qual se atribuíam propriedades maravilhosas; de ara pedra benzida, colocada no altar , e sobre a qual o sacerdote faz a consagração, na missa; ~ lascada, designação da primeira parte da idade da pedra, Paleolítico; ~ polida designação da última parte da idade da pedra, Neolítico; atirar a primeira ~ ser o primeiro a acusar, estando comprometido;  atirar a ~ e esconder a mão fazer o mal, fingindo-se  inocente; chamar (alguém) à – repreender (alguém) ; com quatro pedras na mão, agressivamente; dar por pau e por pedras, - zangar-se muito; de fazer chorar as pedras muito comovente; de ~ e cal –muito seguro, firme, inabalável, absolutamente determinado; estar com ~ pedra no sapato, andar desconfiado m (do lat. Petra).

O símbolo ~ (tilde) está em substituição da palavra “pedra”, para evitar repetição da mesma.

Francamente falando, escrevendo para que conste, depois de analisar bem, juntando a minha óptica de  ver as coisas, com a experiência tida durante os meus largos anos, convividos com uma multitude de pessoas de várias nacionalidades e, por conseguinte, de várias culturas, concluí que muito mais havia para “descrever mais e melhor” o que é um calhau. Assim após elaboradas notas, extraí o resumo seguinte, convicto que, se mais pesquisasse mais encontrava ainda. Mas, creio que a descrição seguinte será o suficiente para que os leitores possam formar uma ideia e captarem a profundidade do tema.  Assim…boa leitura é o que lhes auguro.

 CALHAUS:
                                                                           (Por Mário Tito)

                 

Há-os…
          Que, toscamente evoluíram 
       Feitos com certa arte
Naturais e fabricados
Que, nasceram defeituosos
Que, assim ficaram com o tempo
Com tal aspecto que, os lamento
Que têm um brilho, que cega
Sem brilho algum e opacos
Gorduchos, que parecem sacos
Que, nunca prestaram nem prestarão
Na Europa, Africa e Oceânia
Na Ásia, Améria Central, Norte e Sul
De várias cores, incluindo o azul
Na Antártica e no Polo-Norte
Alguns, são encontrados por sorte
Que dão “azar” quando se encontram
Machos, mistos e fêmeas
Há-os de todos os calibres
Com mais “quilates” que outros…por fora…
Mas, todos “ocos” por dentro!

Há-os…
Que, com o tempo, são mais ainda
Perdendo valor, muitos deles
Ganhando ridículo, muitos outros
Que pensam que não são
Que nem sabem pensar
De cerrada barba, por fazer
De esmerada barba feita
Que servem de suporte a outros
Em toda a parte onde existam pedras
Bem polidos, ou menos tal
Em bruto, ou algo quase igual
Aqui, além e por todo o lado
Pobre, rico e remediado
De Norte a Sul de Portugal!

Há-os…
Em toda a parte, onde homens houver
Toscos por fora, alguns deles
Toscos por dentro, muitos outros
Engravatados e, de alva camisa
Laminados e por laminar
Vesgos, cegos e aleijados
Mais por dentro do que por fora
Carecas e encabelados
Corcundas e desempenado
Rufias e aldrabões
Dispersos e aos montões
Que não sabem que o são
Que são, e insistem não o ser
Em todas as profissões
Alfaiates, empresários e tecelões!

Há-os…
Desde choferes a maquinistas
Engenheiros, locutores e dentistas
Cozinheiros, taberneiros e outros tais
Uns menos toscos, outros muito mais
Alguns activos, outros inertes
Tipo bravos e tipo mansinhos
Parecendo “touros ou cordeirinhos”
Religiosos e ateus
Cristãos e judeus
Muçulmanos e budistas
Há-os…em todas as religiões
Uns que são mesmo fanáticos
Alguns, que são menos devotos
Outros, que só sabem dar nas vistas
Que são autênticos malabaristas
E, também os há…que são bons artistas!

Há-os…
Há-os em todas as forma e matizes
Professores, advogados e juízes
Que nunca nada fizeram, mas vivem
Os que morrem a trabalhar
Que o são, desde meninos
Que, aparentam não o ser, mas são
Que tentam não parecer, mas em vão
Que, dá pena que assim sejam
Invejosos e sem inveja
Gananciosos e trapaceiros
Desde doutores a pedreiros
Uns menos e outros mais
Banqueiros e… que sei eu mais!

Há-os…
De papillon, engravatados e de folhos
Amiúdo, atacado e aos molhos
De voz grossa e, voz de falsete
Que, têm que dormir na rua
Que sempre dormiram em palacete
Que têm pouca vergonha
Que não têm vergonha alguma
Que não sabe o que isso é
Que, acreditam que são alguém, sem ser
Que sabem tudo, sem nada saber
Insistindo, afirmando, de finca-pé
Que gostam muito de se exibir
De façanhas que só dá p’ra rir
Que têm pouca dimensão
De têm dimensão massiva
Que aparentam ser polidos
De várias cores e feitios
Já minados e por minar
Nos ribeiros, riachos e rios
Uns á vista, outros escondidos
No deserto e, nas profundezas do mar!

Há-os…
Que, se encontram facilmente
Que são difíceis de encontrar
Do lavrador ao dentista
Do veterinário ao oculista
Que, são exímios, na sua arte
Que nem de arte percebem
Que são artistas de merda
Que nem p’ra conversar servem
Que são gordos ao nascer
Que engordam, com o comer
Que são magrinhos desde nascença
Que enjoa, a sua presença

Há-os…
No governo e suas sucursais
Desde Soldados a generais
De Presidentes, secretários a ministros
Que vivem desafogados
Que vivem sempre aflitos
Que só vivem de mexericos
Com muito dinheiro e com pouco
Sem dinheiro qualquer algum
Que, com bons carros andam
Que, nem bicicleta têm
Que nem sabem falar, mas falam
Que, tentam falar bem, mas não sabem
Que nem sabem escrever
Que, se escreverem, serão gatafunhos
Que aparentam e cheiram a imundos
Que se vestem muito limpinhos
Que são alarves ao comer
Que são o que são, sem saber
Que andam de burro ou de cavalo
Por necessidade ou por “regalo”!

Há-os…
Que são assim, assado e doutro modo
Muitos deles sem ter consciência
Para os quais, não tenho paciência porque…
Um calhau é um calhau de seu apodo!

Há-os…
Que, mesmo disfarçados, para que não pareçam…
não conseguem deixar de o ser!

Há-os…
Que, por muito que se esforcem…será uma causa perdida porque…
toscos nasceram e,  toscos serão, toda a vida!

Há-os…
Que, são tudo o mais, menos não o ser…a tal ponto que…
se não houvesse calhaus…eles… teriam que ser!

Há-os…
Que, com eles, eu não me ralo devido a que,  sejam o que sejam,
com calhaus eu não falo porque… (Música de fado…maestro)

Não quero gastar saliva
Com cérebros de serradura
De tristeza, vai-se-me a vida,
Com tanta falta de cultura!

FIM.

 

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