O PEIDO E O ARROTO
Prezados amigos leitores:
Hoje, acordei bem disposto, depois de passar uma noite ao lado da minha mulher a ressonar e do meu cão a saltar da cama, como sinal para ir á rua fazer xixi, creio eu, a não ser que fosse pelo incomodo causado pelas periódicas, explosões – inofensíveis, há que o dizer antecipada-mente - emitidas pelo gás natural intestinal, causado pelo efeito da digestão dos alimentos da véspera que incluiu feijão frade e carapaus fritos, a par de uma salada "juliana" - tipo p'ró caldo verde - daquela couve frisadinha, cujo nome não sei em português.
É uma delícia e faz bem á saúde. O segredo é o tempero. Sumo de limão antecipadamente umas duas horas (o limão vai recosendo a couve, tornando-a macia), azeite, alho espremido, sal a gosto e, se quiserem e tiverem, podem misturar uns pinhões ou…queijo fetta aos pedacinhos. Isto do queijo, até é mais para ajudar a ingerir melhor o tintinho.
Esta minha boa disposição, foi ainda aumentada ao ler uma mensagem sobre "o gaz natural existente no corpo humano" - já lá vamos ao teor da mensagem – publicada por uma senhora!
Ora, o facto de ter sido publicada por uma senhora, para mim é um factor importantíssimo porque, isto demonstra que, aquela minha atitude de me retrair a escrever certas coisas, sempre foi baseada pelo respeito e consideração que todas as senhoras me merecem.
Mas, com esta abertura, creio que acordei, saindo do marasmo do tempo da evolução – talvez causado pelos longos anos de não convivência no dia-a-dia, com gentes de agora e que, como tal, talvez não tenha acompanhado a evolução da mentalidade e da forma de ver as coisas tal como elas são, sem subterfúgios, chamando as coisas pelo verdadeiro nome e não pelo apelido.
Bem, neste ponto, poderia estar aqui até amanhã a tentar desviar a conversa, com justificações várias e mais algumas, para tentar dizer que não sou dessas pessoas que, quando diz uma coisa, uma palavra ou uma frase, é com a intenção de ofender alguém. Não nasci para isso.
Agora, o que a vida me ensinou – e eu aprendi porque sempre fui bom aluno – é que a sociedade, com o andar dos tempos, perniciosamente começou a chamar nomes – ou por outra – a usar apelidos para identificar certas coisas que, até ali, eram conhecidas pelo nome próprio.
Em suma. Deste modo, o que estivesse e está em questão, passou a ser conhecido não só pelo nome próprio como, também pelo apelido. Às vezes até mais um.
Mas, antes de entrar “fisicamente” no grão da conversa, deixem-me mencionar este episódio.
Por exemplo: Creio que não é necessário dizer que, apesar de não saber bem quais serão os hábitos socias dos leitores, o certo é que, pela experiência do passado, quando um grupo de pessoas se reúne numa festa – casamento, aniversário…por exemplo, antes da refeição principal, quase sempre se servem uns aperitivos, não é verdade?
Bem, para que saibam, disto percebo eu. Não de casamentos, claro, mas de aperitivos, já que andei 90% da minha vida dentro do ramo e, apesar de hoje já ser menos, ainda alinho de vez enquanto, devido á profissão da minha mulher, como cozinheira.
Portanto, nessas festas, além do “trinca-trinca”, oferecem ás pessoas bebidas várias, não é verdade? Não digam que não porque eu sei muito bem que oferecem.
Como já disse, não tenho estado em contacto com o ambiente daí, em Portugal mas não iria longe de afirmar que, em certos casos há quem beba “mimosa” – apelido para champagne com sumo de laranja e, agora sem apelido, “vodka” com sumo de laranja. É verdade ou não?
Bem, se não é usado aí é usado aqui! De facto, até é usado aí porque em bem me lembro quando trabalhei em Montegordo, no Algarve.
Portanto, cingindo-me só e somente, a estas duas bebidas, uma já com apelido e a outra ainda não – que eu saiba, por desconhecer os hábitos daí, o certo que a “vodka” com sumo de laranja também tem um apelido. Deixem-me continuar que já explico.
Bem, a coisa foi que, quando viemos – eu e a minha mulher – para a residência do Embaixador de Portugal em Washington DC e, já ali, cada qual a fazer os seus afazeres, até que vem uma recepção – creio que no dia 10 de Junho.
Ora, ali dentro, com tanta gente bem vestida e andando eu para trás para diante, a ver se tudo estava em ordem – eu era o mordomo – quando um sujeito se dirige a mim e me pede uma “screwdriver” que, por acaso eu até sabia muito bem o que era.
A questão foi que, apesar de na ocasião eu até falar mais francês do que inglês – influência de 14.6 a viver na Guiné, rodeada de dois país de língua francêsa – Senegal e Guiné Conacri – quem trabalhasse na indústria hoteleira, se não falasse inglês correcto…pelo menos arranhava.
Esse ear o meu caso. Mas, lá porque o meu inglês na ocasião ainda não fosse como o de hoje…eu não era tão burro para não saber que, traduzindo para Português, um "screwdriver" era uma chave-de-fendas.
O facto era que, eu até falava mais ou menos porque, senão, não poderia ter trabalhado como trabalhei na Embaixada dos EUA em Bissau, bem como a bordo de um navio sismográfico americano que “zarpou” de Bissau para Londres, comigo abordo, onde eu era o cozinheiro-chefe.
Mas…voltando a “screwdriver” – ali, no meu defeituoso inglês, fazendo a ligação directa com aquilo que eu tinha aprendido na escola da “puta da vida”…em português queria dizer “chave-de-fendas”. Se tiverem dúvidas, vejam lá bem no dicionário de tradução…se não é assim!
Aqui está um exemplo em que, o uso do apelido de "uma coisa", só trás é confusão. A mim, pelo menos trouxe na ocasião porque logo que o homem me pediu o que pediu – não vou escrever outra vez o mesmo para não perder tempo, eu dei meia volta, começando a matutar “para que é que raios aquele gaijo quereria uma “chave-de-fendas” no salão onde só havia gente bem trajada”, incluindo algumas mulheres com as costas quase todas despidas onde, alguns vestidos – francamente – com um pouquinho mais, podiam ter feito o “V” até mais abaixo um pouco.
É que, da forma como estava feito o “V” e…até onde estava feito, aquilo não enganava nada nem ninguém. Antes pelo contrário porque, o “V”, atrás no vestido, deixando a pele toda á vista, era mais que uma "indicação-tipo-seta", indicando aos “mirones” para mirarem para o local para onde a seta apontava, que era logo ali mesmo, um pouquinho mais abaixo. Tenho a certeza que estão a ver bem ao que me refiro e, como tal deixem-me terminar isto.
Assim, eu ali a matutar, caminhando e "remordendo" entre dentes sobre o que ia matutando, dirigi-me para o local onde sabia existir uma caixa com ferramenta vária quando, no corredor me encontro com uma colega de trabalho a qual me perguntou se precisava de algo…ao que eu respondi que sim, que precisava de uma “chave-de-fendas” para um tipo no salão e que, francamente – acrescentei – não sabia para o que o gaijo a queria!
Foi ali que a minha colega, me perguntou se não “seria um “screwdriver”.
– “Pois…é exactamente isso mesmo…uma chave-de-fendas!"…- disse eu. Não é que, a minha colega, começou a rir-se á gargalhada!? Bem…de seguida, lá explicou o que era a coisa e…que confusão com o raio de usarem um apelido para uma coisa que eu até sabia o que era, mas com outro nome!
Um outro episódio, teve lugar na Guiné, quando uma pessoa de família – estiveram lá 9, chamados por mim além da minha mulher - teve necessidade de ir ao médico. Após consulta, o médico receita o que receitou, incluindo que levasse as “fezes” no outro dia. O familiar vai á farmácia para a receita ser aviada e, após esta estar aviada, não havendo medicamento algum que aparentasse ser “fezes”… pergunta ao farmaceutico pelas mesmas.
Estão a ver a cara com que ficou o farmaceutico? Se disserem que sim, é impossível! Quando muito, poderão imaginar, tal como eu.
Mais um apelido que só faz confusão porque toda a gente sabe – e quase que poderia garantir que todos os leitores sabem isso muito bem – que “fezes” é o mesmo que ________o espaço em branco é para o leitor preencher!
Ora bem, até aqui, pelo que já notaram, até tem sido fácil de seguir porque na verdade isto foi só um "aperitivo" sem apelido algum.
Assim, indo á ideia inicial daquela conversa de ter acordado bem disposto e, inspirado por uma mensagem publicada por uma senhora sobre “gaz natural" no corpo humano e, juntando os meus princípios de ser corajoso e enfrentar as coisas de frente - se não fosse já cá não andava hoje porque, tive coragem para resistir e passar o que passei com 14 anos e meio de África, com todas a peripécias envolventes, bem com cerca de 6 meses -3 de cada vez - a bordo de um navio, no mar do Norte e, claro, 30 e tal anos nos EUA - vou directo ao assunto que é nem mais nem menos o seguimento do que já disse até aqui. O uso de apelidos e, porque é que se usam.
A meu ver, alguns até têm justificação e até fazem sentido tal como aquele sujeito que se chamava José Fezes!
Ora aqui, neste caso, as alternativas só seriam recolocar a verdade no nome. Se o nome substituto não fosse bem aceite pela “sociedade”, o problema era da “sociedade” e não dele! É que, com o apelido, ele não enganava nada nem ninguém porque, "fezes" é merda e, merda, é fezes. Ponto e vírgula.
Deste modo, ele mudou o nome para o seu original – “José Merdas” – o que, com o acrescento do “s” até disfarça melhor do que com o uso de “fezes”. Ao fim…e ao cabo, a sociedade é que inventa estas coisas.
Vejamos, por exemplo o caso do “peido e do arroto” a começar pelo primeiro, título desta conversa toda.
O PEIDO
O peido, tem a fama que tem mas, na realidade, não foi ou é, porque “ele” a mereça, devido a que, - factos são factos – o homem, que é homem, expele gases sempre que achar por bem fazê-lo ou sempre que sentir necessidade de tal.
Todos sabemos que aguentar um "traque" faz mal à próstata e que, aguentar um arroto faz mal a outra coisa qualquer, e se calhar até mais que uma. Mas pronto, isso são coisas médicas e não coisas minhas.
Aqui, estou-me a referir ao facto de…ser ou não ser “ético, bonito, civilizado, polido, etc. etc.,” o dar ou não dar um peido em público, principalmente quando se trata de dar “um bem dado” com ressonância bem audível e, se possível – dependendo da refeição anterior - cheiroso e tudo. Como diz um velho refrão, "há coisas que não se devem encolher…esteja ou não, o Papa a ouvir, a cheirar ou, a ver"!
Antes de continuar, convém mencionar que, científicamente falando – escrevendo para que fique escrito o que falo - há dois modos de expelir gases ou de, dar peidos!
Um por cima – pela boca – e outro por baixo - pelo anus. Comecemos por baixo, tal como se deve começar uma casa.
O peido é das coisas mais belas e naturais que o ser humano herdou – para protecção da sua saúde - da mãe natureza mas, ao mesmo tempo, uma das coisas mais mal-amadas de sempre. O peido foi praticamente banido por uma sociedade “mariconça” há muito tempo mas, graças aos homens de verdade…sobrevive, agora e sempre, em cada homem que se preze de o ser!
Em termos científicos - e completamente inúteis para um homem - a flatulência aparece quando gases derivados da digestão da comida se acumulam no intestino e se dirigem para a saída, criando vibração à medida que passam no anus ou, pelo no buraco do cú.
O homem macho, expele os seus gases com alarido e com fedor. Já foi dito que o mais homem é aquele que peida mais alto, e isso já vem desde tempos imemoriais.
Na pré-história, quando se instalava a confusão na caverna, o macho dominante mandava o seu "peido-mestre" para que todos se calassem (ou um arroto, mas já falaremos disso). O peido, tem toda uma panóplia de vantagens, tanto sociais como as seguintes:
- Quando se dá um peido…é divertido.
- O peido, até dá para fazer concursos.
- O peido serve para afirmação de masculinidade.
- O peido serve para identificação de refeições passadas, como, por exemplo, cheirar a "ovo"
Nota: - Nesta última, até dá para se fazer comentários quando – após o "cheiro do peido" começar a infiltrar-se pelas narinas adentro – a pessoa que cheirou o cheiro do peido, pode muito bem sair-se com o seguinte comentário – "Oh Manel, quer-me parecer que ontem comeste bacalhau à Zé do Pipo."
Mas, continuando…
Há peidos de vários tipos, sons e de vários cheiros.
O verdadeiro homem saberá como os dar e "ornamentar" todos.
- Alto, (sonoro) para se fazer notar.
- Baixinho, para asfixiar discretamente.
- Grave, para testar a ressonância nas paredes da obra.
- Agúdo, para assobiar melodias.
- Pausado para acompanhar os colegas em cantorias, etc., etc.!
O movimento inerente a cada peido, pode não ser utilizado mas…é já um clássico e recomenda-se que – quem estiver pronto a peidar-se, deverá inclinar-se para o lado, levantar ligeiramente a perna – esquerda ou direita, tanto faz porque, o importante é peidar-se como deve de ser - soltando o gás…fazendo uma expressão de esforço com o rosto, seguida duma expressão de satisfação, com um "aaaaah" de alívio e, voltar à posição natural.
O Arroto.
Tal como o peido, o arroto é também das coisas mais mal-amadas de sempre. Mas é ainda praticado pelos machos de toda a parte. Mas, os propósitos do arroto não são, geralmente, os mesmos que os do peido. Pode servir para mandar calar, afirmar a masculinidade, mas também para mostrar satisfação, relaxamento, etc.
É bem sabido que o macho árabe arrota no fim da refeição, para mostrar que a mesma estava do seu agrado. O macho português faz uma coisa semelhante, quando bebe cerveja, por exemplo, mas este arroto fará parte de todo um ritual que começa com uma inspiração seguida do arroto, um estalar de língua e uma expiração, depois diz-se "Isto é que vai uma crise, hein?" ou outra frase igualmente máscula.
Os arrotos não diferem muito uns dos outros em sonoridade, por isso, tanto o hálito como a duração do arroto dão a identidade ao dito, mas não se fazem concursos de hálito, por estranho que pareça.
Se o macho se encontra no tasco com os seus semelhantes a beber a sua cerveja e a bater as suas cartas, a Tina/Micas/Maria saberá que deve servir mais canecas quando os arrotos começarem a diminuir de frequência (repare-se que as cervejas nunca param de vir, mesmo quando os hálitos se acumulam para formar uma nuvem de álcool em volta da mesa).
Em suma, arrotar e peidar é d'homem, quanto mais sonoramente mais rijo e, quanto pior o cheiro, mais colhões ou tomatos demonstra ter, o homem que deu origem ao peido com tal cheiro!
E, em abono do “arroto”, para que o leitor fique sabendo, "o arrotar", - é visto como um sinal pouco civilizado pelos ocidentais mas, noutros locais - Arábia Saudita, por exemplo - é visto como sinal de apreciação pelo que lhe foi servido e, noutros locais, o fazer barulho enquanto "chupa" - uma espécie de "sugar" com ruido - a comida, é visto, também como pouco civilizado pelos ocidentais - noutros, o fazer ruido chupando os "nudles" – uuuuuuffffvee - ou qualquer outra comida, fazendo barulho, é sinal que avalia tanto o que vai a comer que, não pode esperar para que a comida arrefeça. Com esta acção, está a elogiar o dono ou dona da casa!
Mas, atenção!
Duas coisas que não são vistas com bons olhos, tanto pelos ocidentais – vá lá, vá lá que, pelo menos nestas duas, estão de acordo - como pelos países que já mencionei, é "sacudir as orelhas" e "borborejar" enquanto come a sopa ou algo liquido, como fazem os porcos… quando metem o focinho na vianda e, expiram fundo, fazendo borborejar a sua comida.
Ou seja, a comida deles, dos porcos, e não a comida do leitor!
Assim, para que saiba, aqui fica o alvitre e…aprendei.
Aaaaaaaamen.
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